Eu só faria uma ponderação sobre aquilo que observo: as grandes influências conservadoras do metal vêm predominantemente das bandas clássicas dos EUA. Não quero fazer piada com isso, mas é impossível não mencionar como o sistema educacional precário deles se une a visões completamente deturpadas de política que só existem lá.
Pega as letras do Mustaine e do Hetfield, por exemplo. É uma visão política muito inocente, ignorante mesmo. Papo de quem é "contra tudo isso aí" e demoniza a política sem nem saber exatamente do que tá reclamando. Eu sempre achei que esses caras conseguiam falar de questões sociais muito bem quando se colocando na pele da pessoa comum, mas simplesmente erram brutalmente quando tentam pegar uma visão macro. Falta conhecimento, base mesmo. Claro que dá pra citar Anthrax, Testament e diversas outras menos conhecidas que se posicionam à esquerda ou, minimamente, com uma visão mais liberal de mundo. O problema aqui é apenas um: por melhores que sejam, não são essas bandas que moldaram o imaginário do grande público de metal no Brasil ou no mundo.
Da Europa, por sua vez, as grandes bandas clássicas sempre se posicionaram mais à esquerda, vide Blind Guardian, Kreator, Motorhead etc. Até o Helloween no início parecia estar mais pra esquerda, mesmo com o Hansen tendo virado apoiador do AfD nos últimos anos. Só que aí você pega a banda mais idolatrada do metal: o Maiden sempre foi mais apolítico em suas letras, mas o apoio ao Brexit não os deixa mentir e o Bruce se vendendo como um grande exemplo de empreendedorismo também. É uma árdua batalha contra a força que esses caras exercem na mente do fã mais influenciável. E aí depois ainda chega o black metal com uma legião de fascistas pra zoar tudo de vez.
Agora um contraponto a tudo isso que eu disse: o estilo está bem mais underground do que já foi, mas ele nunca foi tão rico e tão diverso (para o bem e para o mal). Pra cada reaça que aparece, tem pelo menos uma banda fazendo barulho pra tentar apresentar outra visão de mundo e dando a cara pra bater. Eu acho que a maior parte dos fãs de metal da minha geração já se perdeu, esses caras se tornaram os tiozões reaça e aí já era, mas ainda dá pra ter alguma esperança nos moleques que hoje começam a se interessar pelo estilo. Tenho certeza que eles vão ser apresentados primeiro aos medalhões, mas o diálogo deles vai ser com as bandas atuais, porque são essas pessoas que tão na ativa hoje. Talvez ainda dê pra gente se desvencilhar desse estereótipo merda do metaleiro conservador.
Tenho dois contrapontos: Indians e as parcerias com o Public Enemy. Não são muitas músicas politizadas, mas Indians aborda a temática de forma que nenhum conservador faria. E, bem, ir além de só escutar e também fazer parceria com um grupo de rap (com letras explicitamente políticas) nos anos 80 é uma ação que fala muito sobre a atitude deles.
Na verdade, eles são estranhos. Eu digo que são apolíticos ao considerar que a vasta maioria das músicas deles são sobre história, ficcão, mitologia e tal. Na época do Paul, ele era o elemento punk, mas depois disso eles tomam um caminho muito mais do entretenimento, mantendo uma certa distância dos assuntos retratados. Na primeira passagem do Bruce, acredito que 2 minutes to midnight seja a única música sobre política antes de 1990. E aí, do nada, você tem Holy Smoke, Afraid to shoot strangers e Be quick or be dead.
Posto isso, a banda costuma ser mais quieta e o Bruce é quem gosta de aparecer. No meu entendimento, ele é liberal (não a bizarrice do liberal conservador). Pensando por esse lado, eu vejo uma lógica nas suas ações e em sua participação nas músicas que comentamos. O que não faz sentido algum é o apoio ao Brexit, mas talvez seja erro meu de tentar encontrar coerência nisso. Talvez política só não seja a especialidade dele mesmo, sei lá.