Milhões de moradores da Grande São Paulo estão há mais de 90 horas sem energia elétrica e com insuficiente abastecimento de água desde que a região foi atingida por uma forte tempestade no dia 11 de outubro. A empresa italiana ENEL, responsável por 70% do abastecimento do estado de São Paulo, afirmou não haver previsão para que a luz retorne.
Enquanto isso, mais de 430 mil imóveis permanecem no escuro e a falta de energia dificulta também o trabalho das bombas de abastecimento de água, além, é claro, do interrompimento de serviços essenciais à população, com o fechamento de escolas, postos de saúde e estações de ônibus. Até agora 9 pessoas morreram em decorrência das fortes chuvas, incluindo um funcionário da ENEL que morreu em serviço.
Moradores revoltados fecham vias e lotam os portões da ENEL
Desde domingo manifestações espontâneas têm tomado toda a região. Moradores de Parelheiros, zona sul de São Paulo, fecharam vias com galhos em chamas exigindo respostas da ENEL. Também houve bloqueios na Estrada do Campo Limpo. Em São Bernardo e Santo André, moradores fecharam pistas da Rodovia Régis Bittencourt e da Rodovia Caminhos do Mar com obstáculos em fogo. Em vários pontos a polícia militar atacou os manifestantes e efetuou prisões, porém mesmo assim a população resistiu e permaneceu nas ruas. Na capital, os portões da companhia foram fechados pelos moradores revoltados com a situação.
O ocorrido lembrou a muitos do episódio de 2019, quando a sede da ENEL no Chile foi incendiada por manifestantes durante os protestos multitudinários que sacudiram o país. A ENEL é uma empresa multinacional que opera em diversos países. Seu maior acionista é o governo da Itália, que controla 23% das ações. É a maior companhia de serviços públicos da Europa, com capital aberto de 82 bilhões de euros. Em 2020 a empresa registrou 65 bilhões de euros em receita líquida, em torno de 400 bilhões de reais, tornando-a a 73º maior empresa do mundo em receita. Ainda assim, a companhia tem sido acusada de más práticas no abastecimento de São Paulo, efetuando cortes no quadro de funcionários e subestimando a possibilidade de uma crise no sistema.
No Brasil a ENEL também opera no Ceará e Rio de Janeiro, sendo a 2ª maior provedora de energia do país. Em 2022 a empresa abandonou a concessão do estado de Goiás para evitar um processo de cassação por descumprimento de contrato.
De quem é a culpa?
O ministro da Controladoria Geral da União (CGU), Vinicius Carvalho, acusou a empresa de não cumprir com suas obrigações, afirmando: “É importante dizer que é inadmissível que uma situação como essa aconteça, ainda mais duas vezes. […] Sem que as medidas emergenciais tenham sido adotadas na velocidade necessária para pelo menos mitigar os danos causados por este tipo de situação”
Em sua fala, o ministro fez referência aos dois últimos apagões que São Paulo sofreu sob concessão da ENEL, em novembro de 2023 e março de 2024. O governo federal informou que iniciará uma auditoria para encontrar possíveis falhas na fiscalização por parte da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), responsável por fiscalizar a companhia, e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, anunciou a criação de uma força tarefa com o intuito de restabelecer os principais pontos de abastecimento dentro de 3 dias.
O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, em debate eleitoral na Band nesta segunda-feira, acusou o governo federal de inaptidão em resolver a crise, uma vez que a ENEL, estando sob conseção do Ministério de Minas e Energia, responde diretamente à Brasília. Guilherme Boulos por sua vez atacou a prefeitura pelo serviço de zeladoria urbana insuficiente, ressaltando as milhares de árvores caídas que causaram interrupções em toda a rede.
O tema tem dominado a pauta de ambos os candidatos ao 2º turno na capital paulista, porém até agora nenhuma solução foi encontrada, nem por eles, nem pelo governo federal e muito menos pela ENEL.
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