Um “partido para defender a Amazônia”. Foi assim que um coletor do MBL se aproximou de senhoras na Avenida Paulista, em São Paulo, tentando colher assinaturas para a fundação do partido do movimento, chamado Missão. A cena foi gravada, e o vídeo foi obtido com exclusividade pelo Intercept Brasil.
O episódio ocorreu em julho deste ano na capital paulista e revela a estratégia do grupo para coletar assinaturas: esconder o MBL e apelar para pautas que não são prioridade do movimento. Para fundar o partido, um sonho antigo do MBL, é preciso coletar 547 mil assinaturas em dois anos.
O Intercept revelou na terça-feira, 12, que várias pessoas relataram ter sido enganadas na coleta de assinaturas: o pedido era apresentado como se fosse um apoio a causas populares — educação, defesa dos animais e até a proteção da floresta amazônica — e sem menção clara ao propósito real: viabilizar um partido diretamente ligado ao MBL.
Nas imagens, o coletor, que veste uma camiseta com a imagem de um tigre que simboliza a sigla e a palavra “Missão” escrita nas costas, não informa inicialmente que pertence ao MBL. Pelo contrário, o homem usa uma abordagem emotiva sobre a Amazônia e afirma que está trabalhando junto com uma “agremiação estudantil”.
“Estou tentando criar um partido para defender a Amazônia no Congresso Nacional. Eu e minha agremiação estudantil estamos trabalhando nessa parte de criar um partido. A gente vai fiscalizar as queimadas, combater a grilagem, combater a caça ilegal, por exemplo. Vocês podem me ajudar com uma assinatura para defender a Amazônia?”, pergunta.
Em dez anos de história, o MBL não se notabilizou por defender a Amazônia ou políticas a favor do meio ambiente. Pelo contrário, o grupo sempre se alinhou aos interesses do agronegócio. Em 2019, idealizou uma caminhada de 700 km para defender a pavimentação de uma rodovia nociva ao meio ambiente. No mesmo ano, a proposta de licenciamento ambiental elaborada pelo deputado federal do MBL, Kim Kataguiri, do União Brasil, foi duramente criticada por entidades ambientalistas.
Além do vídeo enviado por uma fonte anônima, o Intercept recebeu, desde que a reportagem inicial foi ao ar, mais de 70 relatos semelhantes via redes sociais.
“Fui abordado em Gramado em junho, com essa mesma conversa. Não assinei e comecei a questionar. Daí o rapaz me disse que pertencia ao MBL. Recusei novamente, mas todas as senhorinhas que estavam à minha volta assinaram sem saber o real motivo”, comentou um leitor.
Outro relato foi de uma abordagem no bairro da Liberdade, em São Paulo. “Aconteceu comigo e minha irmã… ele falou que era para abrir um partido a favor dos animais. Perguntamos se era um partido de direita e eles disseram que não. Fomos enganadas. Em nenhum momento mencionaram que era do MBL! Se eu soubesse, JAMAIS assinaria”, afirmou outra leitora.
O MBL afirmou que “todo o processo de captação de assinaturas de apoiamento está sendo feito de forma regular” e reagiu à nossa investigação com duas lives repletas de ataques pessoais e de baixo nível ao repórter Giovanni Pannunzio.
Nas lives, o MBL questionou a denúncia: “como a gente está fraudando e não tem um vídeo?”, disse o coordenador do movimento, Arthur do Val. Agora tem.
O vídeo pode ser acessado e baixado na página dessa reportagem. Não consegui colocar ele aqui.
Burguesia e seus capachos são uma raça muito desgraçada. Nenhuma notícia que aparece ~~envolvendo o Movimento Bosta e Lixo~~ nunca é alguma coisa boa tipo: "Enquanto militava contra a demarcação de terras da Amazônia jovem é devorado por ariranhas".
Eles me abordaram num terminal de onibus pra falar de educação também.